Microestruturas encontradas em fósseis similares às produzidas por fungos presentes em nosso cotidiano
A conservação de um organismo após sua morte depende de muitos fatores específicos para ocorrer, sendo necessário milhares de anos para que ocorra sua fossilização. Entre esses fatores, está a ação de microrganismos.
Apesar de serem mais conhecidos por atuarem no processo de decomposição, os microrganismos também são responsáveis pela produção de biominerais que podem auxiliar no desenvolvimento de um fóssil. Esse é o aspecto investigado pelo artigo “Fungal-induced fossil biomineralization”, que avalia a provável contribuição de fungos produtores de nanofibras para a preservação de estruturas frágeis, como fezes. Essas nanofibras são como mini fios que, entrelaçados, envolveriam o tecido fossilizado, dificultando a sua degradação ao longo do tempo.
Para justificar esta hipótese, foi realizado um estudo acerca da composição de fezes fossilizadas com o auxílio de técnicas avançadas de microscopia e mineralogia, onde foram encontradas fibras de hidroxiapatita, uma substância insolúvel formada por fosfato de cálcio. Na área dos cosméticos, é uma substância amplamente conhecida por estimular a produção de colágeno e evitar a temida flacidez da pele. Posteriormente, fungos da espécie Aspergillus niger foram cultivados em laboratório em meio com abundante disponibilidade de cálcio e fosfato.
Paralelamente ao processo de desenvolvimento das colônias de fungos, observou-se a produção de nanofibras associadas a oxalato de cálcio, composição equivalente àquela encontrada nos fósseis. Além disso, a estrutura das fibras encontradas em ambas as situações também é similar, reforçando a ideia da participação dos fungos dessa espécie na fossilização. Vale ressaltar que a espécie utilizada para o cultivo em laboratório, Aspergillus niger, é comumente encontrada em diversos ambientes terrestres, incluindo solo, fezes e alimentos contaminados como frutas e legumes.
Portanto, essa é um estudo de grande relevância não somente no que diz respeito ao intrigante processo de fossilização, mas também quando se trata da longa permanência dos microrganismos no ambiente terrestre e sua importância para o estudo da vida.