Em 2002 o estúdio 20th Century Studios lançava um dos filmes de animação mais acalmados da história, A Era do Gelo. O filme acompanha as aventuras de três amigos, um mamute, um tigre-dente-de-sabre e uma preguiça gigante durante a era do glacial. Entretanto, é possível identificar algumas falhas e curiosidades no filme em relação a coexistência dos seres apresentados com o cenário geológico de acordo com os registros fósseis existentes.
Cientistas da Universidade Federal de Lavras, em 2017, fizeram uma revisão paleontológica sobre os principais aspectos do filme. Primeiramente a época geológica, por apresentar personagens humanos no continente americano durante uma era glacial, tudo indica que o filme se passa na última glaciação máxima que ocorreu por volta de 18 mil anos atrás durante o período Pleistoceno. No Brasil, registros polínicos de vegetação sugerem que houve uma queda de temperatura aproximadamente 26 mil anos atrás. Além disso, a fauna apresentada no filme, de acordo com registro fóssil é de maioria encontrada na América do Sul.
Algumas das principais falhas paleontológicas do filme é a presença da família Brontotheriidae, do grupo dos rinocerontes, e o esquilo principal Cronopio que foram animais extinguidos antes do período Pleistoceno, não podendo ter convivido com a fauna presente na última glaciação. Outro ponto é o encontro dos personagens principais com os Dodôs, Raphus Cucullatus, que baseado na pouca informação que se tem a respeito dessa ave, ela foi endêmica de pequenas ilhas do oceano Índico ocidental, não sendo encontrado nas américas. O mamute, personagem principal, também um exemplar que não existe registro de migração para América do Sul, sendo encontrado apenas na Europa, Ásia, América do Norte e inclusive América Central, mas nunca aqui. O Tigre-dente-de-sabre, outro personagem principal, apesar de ser originado na América do norte é conhecido que tenham migrado para o sul quando o Istmo do Panamá conectou as américas. E uma curiosidade é que os animais do gênero Xenorhinotherium que aparecem algumas vezes são fortes representantes encontrados na Bahia, o que seria uma boa indicação de que o filme se passa no Brasil. Os outros animais como os representantes do grupo das preguiças, os tamanduás e tatus é conhecido por registro fóssil, e por ainda existirem grupos vivos até hoje, na América do Sul.
Sendo assim, apesar de alguns furos paleontológicos, o filme ainda é uma ótima opção para se ver com a família e os amigos. O artigo estudado sugere também que é um filme muito didático, pois ajuda a desenvolver uma investigação da fauna e das eras geológicas, levanta questionamentos e ainda diverte a todos.
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Referência: Rezende, R. L., Lourenço, C. O., Takayama, L. R., & Junior, A. F. N. (2017). “A Era do Gelo–O Filme”: uma análise de seu potencial para o ensino de paleontologia. Periódico Eletrônico Fórum Ambiental da Alta Paulista, 13(7).
Muito legal Gagriel, ótima escolha. Certamente um tema que irá atrair a atenção de leitores curiosos ;)