Figura 1: Reconstrução da diversidade da flora do Cretáceo.
Por MARK P. WITTON/SCIENCE PHOTO LIBRARY.
As angiospermas (plantas com flores) constituem o grupo mais diverso e complexo de plantas nos sistemas terrestres e aquáticos, sendo um importante recurso para muitos animais, inclusive para os seres humanos, o que torna interessante a busca pelo conhecimento acerca da origem e evolução desse grupo.
A origem das angiospermas no tempo ainda é vaga e muito questionada. Algumas evidências fósseis sugerem que angiospermas e gimnospermas já divergiram no final do Carbonífero (306,2 milhões de anos atrás), sendo o registro mais antigo até então datado do Cretáceo inferior. No entanto, não se tem um histórico de evidências da montagem gradual de seu plano corporal. Essa questão intrigou muita gente, incluindo o próprio Darwin, como podia um grupo aparecer repentinamente no registro fóssil e dominar a vegetação? Sem contar que o primeiro fóssil encontrado já pertencia a uma linhagem rica em espécies morfologicamente diversas, essa conta não fazia sentido.
Tendo em vista essa questão surgiu a hipótese de que o ancestral de todas as angiospermas deveria ser consideravelmente mais antigo. Mas como comprovar isso, considerando à falta de fósseis de angiospermas pré-cretáceas?. Enquanto nenhuma evidência fóssil era capaz de comprovar tal questão, grandes estudos filogenômicos foram realizados, como imaginado os resultados apontaram para uma origem mais antiga do clado. Essa discrepância entre dados moleculares e paleontológicos foi atribuída à raridade ou ao pequeno tamanho das primeiras angiospermas, as menores taxas de preservação fóssil e a heterogeneidade no registro de rocha.
Apesar do grande avanço nas informações sobre esse clado até os dias de hoje ainda não é totalmente claro quando foi a real origem das angiospermas. Foi pensando nisso que um grupo de pesquisadores da Suíça refez a análise de um extenso conjunto de dados, cerca de 15.000 meso e macrofósseis de angiospermas abrangendo o Cretáceo e o Cenozóico. Para resolver a discrepância nas estimativas anteriores, foi desenvolvido um novo modelo Bayesiano (método estatístico) para inferir a idade de origem dos clados com base na diversidade atual e no registro fóssil conhecido. Esse modelo estima a idade do ancestral comum mais recente de todas as espécies incluídas no conjunto de dados (moderno e fóssil) estimando o tempo em que a diversidade do clado era uma única espécie.
Os resultados desse trabalho indicaram que várias famílias com descendentes vivos se originaram no Jurássico, colocando um forte suporte estatístico em uma origem precoce das angiospermas. Além disso, a gama de tempos estimados de origem em 198 famílias amostradas abrange o Triássico e o Jurássico. Possivelmente essa fase pré-cretácea teve uma diversificação lenta das plantas, que logo depois foi seguida por uma rápida irradiação de linhagens entre 125 Ma e 72 Ma, evidenciada por um forte aumento nas taxas de diversificação, o que explica o aumento dos níveis de diversidade taxonômica observados durante o Cretáceo.
Portanto ao que tudo indica existe uma origem precoce/pré-cretácea de angiospermas, e as evidências são apoiadas não apenas por hipóteses filogenéticas moleculares, mas também por uma análise do registro fóssil. Desse modo conseguimos uma reconciliação das estimativas paleontológicas e do relógio molecular da evolução sobre o assunto.
Agora não ficaremos tão surpresos se fósseis de angiospermas anteriores ao Cretáceo forem descobertos no futuro, não é mesmo?
Figura 2: Tempo estimado de origem das famílias de angiospermas
e gráfico de diversidade familiar cumulativa.
( Figura 3 extraída do artigo fonte).
REFERÊNCIAS:
Artigo fonte: Silvestro, D., Bacon, C.D., Ding, W. et al. Fossil data support a pre-Cretaceous origin of flowering plants. Nat Ecol Evol 5, 449–457 (2021). Disponível em: https://doi.org/10.1038/s41559-020-01387-8.
2. Imagem: Figura 1- Ibrahim Sawal (2021). Flowering plants may be 100 million years older than we thought. Newscientist 2266189. Disponível em: https://www.newscientist.com/article/2266189- flowering-plants-may-be-100-million-years-older-than-we-thought/.
Show Débora!!! Muito interessante o seu texto e esse trabalho que nos apresenta ;)) Adorei!!