Um achado paleontológico brasileiro coletado na pedreira “Cemitério dos Pterossauros” próxima ao município de Cruzeiro do Oeste, Paraná, apresenta um esqueleto quase completo de Berthasaura leopoldinae, uma espécie pertencente ao grupo dos terópodes: dinossauros conhecidos por serem grandes bípedes carnívoros. Isso faz da nova espécie um parente próximo de famosos predadores como os alossauros e tiranossauros. A maior curiosidade que este novo fóssil apresenta à comunidade científica é a sua total ausência de dentes.
O Berthasaura leopoldinae é um noassaurídeo, uma subdivisão dentro do grupo dos ceratossauros. O subgrupo é conhecido por ter hábitos onívoros e por possuir um corpo menor e mais esguio que a maioria dos outros animais nessa categoria, como os ceratossauros e os abelissauros, reconhecidos animais de grande porte com hábitos exclusivamente carnívoros. Ossadas de noassaurideos já haviam sido encontradas na Tanzânia e na China, mas principalmente apenas por meio de registro fóssil incompleto e fragmentado. A espécie brasileira foi nomeada homenageando a ativista feminina, política e bióloga nacional, Bertha Maria Júlia Lutz (1894-1976) e a primeira imperatriz brasileira, Maria Leopoldina (1797-1823). Seu nome faz alusão também à escola de samba Imperatriz Leopoldinense, que em 2018 homenageou o bicentenário do Museu Nacional do Brasil com o tema “Uma noite real no Museu Nacional”.
O crânio da ossada descoberta no Paraná está em boas condições de preservação, o que permitiu a constatação da inexistência de alvéolos dentários (cavidades nos ossos onde os dentes se alojam na maxila e na mandíbula) e a realização de uma tomografia computadorizada que comprovou que o animal nunca teve um dente na vida. Outro noassaurídeo desdentado já havia sido documentado antes, o Limusaurus inextricabilis encontrado em território chinês, mas no caso do Limusaurus, os animais apenas perdem os dentes depois de atingirem a maturidade, por volta dos três anos de idade. Os testes realizados no crânio brasileiro indicam que em nenhum estágio de seu envelhecimento o animal desenvolva qualquer tipo de dentição.
Teoriza-se que a alimentação do Berthasaura fosse herbívora, já que compartilha algumas características com outros dinossauros reconhecidos como tal, inclusive apresentando um bico córneo muito recorrente em espécies vegetarianas. Mas sem outros registros fósseis bem conservados para ajudar a confirmar os atributos da espécie, não se pode afirmar nada com certeza absoluta. Outra possibilidade é que possam manter uma dieta onívora, alimentando-se tanto de plantas quanto de pequenos animais. Não se sabe ao certo a origem dessa diferença morfológica tão marcante entre o Berthasaura e os outros dinossauros com os quais compartilha um ancestral comum próximo. Mais dados são necessários para viabilizar as pesquisas que podem comprovar qualquer hipótese elaborada.