O artigo aborda a paleobiogeografia da subordem Cheirurina, um grupo diversificado de trilobitas, durante o período Ordoviciano (485,4 a 443,8 milhões de anos atrás). Este grupo teve ampla distribuição geográfica e desempenhou um papel importante nos ecossistemas marinhos. A pesquisa investiga como fatores como tectônica de placas e mudanças climáticas moldaram a distribuição desses organismos, utilizando ferramentas como cluster hierárquico e escalonamento multidimensional não métrico (NMDS) para identificar padrões de dispersão e reorganização ao longo do tempo.
No início do Ordoviciano (Tremadociano), as faunas de Cheirurina eram altamente isoladas, devido ao grande afastamento entre os continentes. Três províncias principais foram identificadas: Alta Latitude, Latitude Intermediária e Baixa Latitude. Cada província era caracterizada por grupos específicos, como Anacheirurus na Alta Latitude, Parapilekia na Latitude Intermediária e Pilekia na Baixa Latitude. O isolamento geográfico resultava em alto endemismo, com espécies restritas a poucas regiões.
Com o passar do tempo, os continentes começaram a se mover, reduzindo as barreiras geográficas. Avalônia e Baltica se aproximaram de Laurentia, enquanto a China do Sul migrou para áreas tropicais. Esses movimentos tectônicos promoveram o intercâmbio faunístico entre regiões, transformando as províncias existentes. Durante o Floiano ao Darriwiliano, quatro grandes províncias biogeográficas surgiram: Alta Latitude, Baixa Latitude Gondwana, Baixa Latitude Laurentia-Sibéria e a Província Báltica. Essas novas províncias eram mais amplas e conectadas, mas ainda apresentavam diferenças faunísticas notáveis.
No final do Ordoviciano (Katiano), o cenário mudou novamente. A redução contínua do isolamento geográfico, combinada com eventos climáticos como o aquecimento global associado ao Evento Boda, resultou em um aumento significativo no cosmopolitismo. As províncias de Alta Latitude, Baixa Latitude Gondwana e Baixa Latitude Laurentia-Sibéria permaneceram, mas com composições faunísticas mais integradas. Já a Província Báltica perdeu sua identidade distinta, sendo absorvida pelas faunas de Laurentia e Gondwana.
Mudanças climáticas também desempenharam papéis importantes. No Darriwiliano, uma grande transgressão marinha expandiu habitats e conectou áreas antes isoladas. No Katiano, o aquecimento permitiu que faunas tropicais colonizassem regiões de alta latitude. Esses eventos moldaram a biodiversidade e ajudaram a integrar as faunas globais.
O estudo destacou a redução progressiva do endemismo ao longo do Ordoviciano. No início, espécies eram limitadas a poucas regiões. Com o tempo, o aumento da conectividade resultou em uma fauna mais integrada e cosmopolita. Essas transformações refletem processos evolutivos globais e ajudam a compreender o Grande Evento de Biodiversificação Ordoviciana (GOBE), um marco no aumento da diversidade marinha impulsionado por mudanças paleogeográficas e climáticas.
Link para acessar o artigo na íntegra: https://doi.org/10.1016/j.palaeo.2024.112222