Em 1964, na África, cientistas da National Geographic encontraram um crânio parcial de um réptil, o Sarcosuchus imperator, que viveu por volta de 110 milhões de anos e era muito parecido com os crocodilos e jacarés atuais. A partir do tamanho do crânio foi possível estimar o peso e o comprimento corporal máximo desse animal.
Sarcosuchus imperator. Foto por Eduard Solà Vázquez.
Como é possível fazer essas estimativas para um animal extinto?
Por meio de um tipo de equação, chamada regressão linear, é possível estabelecer algumas relações de proporção entre as partes do corpo e o tamanho total de um organismo.
Correlação entre variáveis
O primeiro passo é determinar se duas variáveis de interesse se correlacionam, ou seja, se existe uma tendência entre elas.
Por exemplo, o comprimento do crânio e o corpo total de um animal são duas variáveis.
Determinar se elas se correlacionam é estabelecer se os valores mais elevados de uma delas tendem a ser associados com valores mais elevados ou menos elevados da outra.
Em outras palavras, quando os valores da variável “comprimento do crânio” aumentam, os valores da variável “comprimento total do corpo” também aumentam? Ou diminuem?
Coleta de medidas
Para conseguir determinar se duas variáveis estão correlacionadas, é preciso coletar o maior e mais diversificado número possível de medidas destas variáveis em outros organismos.
Além disso, é muito importante que haja semelhanças entre a forma e os hábitos do animal cuja variável se pretende estimar com os animais que foram utilizados para criar a equação de regressão.
Isso significa que uma equação calculada a partir de peixes, por exemplo, não é ideal para se prever uma variável de um animal com hábitos terrestres.
Da mesma forma, para prever uma variável do Sarcosuchus imperator, que é um réptil, não é indicado usar uma equação calculada a partir de um leão.
Por fim, os cientistas descrevem uma equação que melhor representa a correlação entre os valores de cada variável. Assim, o valor de uma das variáveis, como comprimento total do corpo, poderá ser determinado a partir do valor da outra variável, como comprimento do crânio.
Como isso ocorreu no Sarcosuchus imperator?
No trabalho de 2001 da Science (Sereno, et. al.), foi usado o comprimento do crânio do Sarcosuchus imperator, que era uma medida conhecida, para estimar o comprimento máximo do corpo do animal e, posteriormente, o seu peso.
Crânio do Sarcosuchus imperator. Crédito: Wikimedia Commons.
Após uma série de análises com outros organismos próximos do Sarcosuchus imperator, como o Gavialis gangeticus e o Crocodylus porosus, os cientistas viram que os comprimentos do crânio e corpo total nos indivíduos adultos estão fortemente correlacionados.
Gavialis gangeticus. Foto por: Charles James Sharp.
Crocodylus Porosus. Foto por Louis Jones.
Dessa forma, usando equações de regressão linear, os cientistas conseguiram estimar que o comprimento máximo do corpo adulto do Sarcosuchus imperator seja de pelo menos 11 a 12 metros, e que um adulto com um comprimento corporal de cerca de 11,5 m teria um peso de cerca de 8,0 toneladas métricas.
Para saber mais:
Confira aqui o artigo original usado como base para elaborar esse texto.
Fósseis descobertos na Bahia foram classificados como pertencentes ao gênero Sarcosuchus, assim como o Sarcosuchus imperator. Confira aqui!
No documentário “National Geographic - SuperCroc” é mostrado como foi construído um modelo em tamanho real do Sarcosuchus imperator. Acesse aqui para saber mais!
Palavras-chave: Animal extinto. Fóssil. Regressão linear. Paleontologia. Divulgação científica.
Referências bibliográficas:
DODONOV, Pavel. Highlights de PaSt para Ecologia. Lab. Ecologia e Conservação, Departamento de Botânica, UFSCar. Disponível em <https://anotherecoblog.files.wordpress.com/2015/09/past-simposioppgern-completo.pdf>. Acesso em 19/01/2020.
LIPARINI, Alexandre. Aspectos biomecânicos e morfofuncionais do esqueleto apendicular de Prestosuchus Chiniquensis (Archosaurua : Pseudosucha) e suas implicações para a locomoção. Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Geociências Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2011. Disponível em <https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/38541>. Acesso em: 19/01/2020.
SERENO, PAUL C.; LARSSON, HANS C. E.; SIDOR, CHRISTIAN A.; GADO, BOUBÉ. The Giant Crocodyliform Sarcosuchus from the Cretaceous of Africa. SCIENCE 16 NOV 2001 : 1516-1519. Disponível em <https://science.sciencemag.org/content/294/5546/1516>. Acesso em 19/01/2020.
Gente, que maravilha! Já tenho um texto para recomendar após a atividade do documentário sobre o Sarcosuchus, das aulas de paleonto. hehehe. Muito Bom Gabi! Parabéns.