Os bichos-preguiça que existem atualmente podem ser agrupados em apenas dois gêneros arbóreos, que são Bradypus (preguiças-de-três-dedos) e Choloepus (preguiças-de-dois-dedos), ambos encontrados nas florestas tropicais da América Central e América do Sul.
Preguiça-comum do gênero Bradypus
O artigo trazido para discussão hoje trata sobre novas descobertas sobre a presença de preguiças nas Grandes Antilhas, que não estão presentes hoje na região, apesar de já ter sido habitada por uma diversidade impressionante de bichos-preguiça Megalonyx, um grupo endêmico -exclusivo da região. As Grandes Antilhas são um conjunto das quatro maiores ilhas do norte do Caribe, compreendendo Cuba, Jamaica, Porto Rico e a chamada Hispaniola (dividida entre Haiti e República Dominicana).
Mapa das Grandes Antilhas, compreendendo as 4 grandes ilhas.
Estudos moleculares recentes sugerem que os ancestrais das preguiças Megalonyx chegaram à região ao final da época do Eoceno (aproximadamente 34 milhões de anos atrás) e, posteriormente, esses animais evoluíram de formas diferentes, dando origem a bichos-preguiça distintos que permaneceram nessas ilhas por aproximadamente 35 milhões de anos, até sua extinção. Essa variação das espécies ia desde grandes bichos-preguiça terrestres, como o Megalocnus rodens, até espécies arbóreas menores, como Neocnus toupiti.
Espécime fóssil de Megalocnus rodens
A escassez de fósseis de preguiças pré-quaternárias (anterior a 2.58 milhões de anos atrás) nas Grandes Antilhas limitou bastante a compreensão da paleobiogeografia e diversidade do grupo.
Trazendo então uma grande novidade, trabalhos de campo recentes em afloramentos do final do Mioceno (5.3 milhões de anos atrás) na República Dominicana levou à descoberta de uma parte de tíbia e escápula de uma preguiça da família Megalocnidae, podendo até mesmo ser identificado de uma forma mais específica como sendo da subfamília Megalocninae.
Tíbia direita de Megalocninae, encontrada pelos pesquisadores do artigo discutido (Fig. 2 do artigo)
Esses restos de ossos encontrados são o registro mais antigo que se tem de um bicho-preguiça na ilha de Hispaniola, e também de qualquer mamífero descrito a partir de depósitos sem conter âmbar. Todos os outros registros já feitos dessa família de preguiças nas ilhas eram do Pleistoceno-Holoceno, ou seja, muito mais recentes.
Os novos fósseis trazem novas percepções na mal resolvida história evolucionária da família de preguiças Megalocnidae, uma vez que preenche uma lacuna temporal de registros desses animais entre o gênero extinto Imagocnus, datado do início do Mioceno (24 milhões de anos atrás), e o grupo bem-documentado mais atual, da época do Pleistoceno-Holoceno.
Ambos os restos encontrados não podem ser diagnosticados formalmente ainda, mas provavelmente pertencem a uma espécie de bicho-preguiça ainda não descrita, proximamente relacionadas com o gênero Megalocnus do período quaternário de Cuba (a partir de 1.8 milhões de anos atrás).
Ainda é necessário uma série de trabalhos de campo na ilha de Hispaniola e ao longo da extensão das Grandes Antilhas na área da paleontologia. Isso possibilitaria o preenchimento de lacunas temporais e geográficas dos registros fósseis de fauna terrestre, levando a um entendimento melhor das origens e da evolução das preguiças.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Viñola-Lopez, L., Core Suárez, E., Vélez-Juarbe, J., Almonte Milan, J., & Bloch, J. (2022). The oldest known record of a ground sloth (Mammalia, Xenarthra, Folivora) from Hispaniola: Evolutionary and paleobiogeographical implications. Journal of Paleontology, 96(3), 684-691. doi:10.1017/jpa.2021.109