Não, hoje não vamos falar sobre a minissérie “Carga pesada”, mas falaremos de uma cilada bastante antiga. A Gruta Abismo Ponta de Flecha, localizada no município de Iporanga (SP), é uma caverna vertical com diversas galerias, onde foi encontrada uma enorme quantidade de ossos de animais extintos e viventes, durante o Holoceno (cerca de 11,5 mil anos atrás). Alguns dos animais encontrados são da ordem Cingulata, que é o grupo dos tatus. O famoso casco dos tatus é formado por placas dérmicas chamadas osteodermes, esse casco tem a função de proteger o animal. Essas placas já estavam presentes nos ancestrais mais antigos dos tatus, e foram encontradas na Gruta Abismo Ponta de Flecha, juntamente com ossos de membros locomotores desses animais.
Foram encontrados materiais de duas famílias de Cingulata: Dasypodidae e Chlamyphoridae. A família Chlamyphoridae é representada pelo gênero Cabassous, que por sua vez é composta por espécies já extintas e ainda viventes. Mas as espécies viventes são muito menores do que as encontradas na gruta, ou seja, podem ter existido espécies do gênero Cabassous maiores do que seus parentes atuais. Sobre a família Dasypodidae, foram encontrados ossos com características que indicam seu pertencimento a essa família, além de que, possivelmente esse material ósseo se relaciona com o gênero Dasypus, que também possui espécies viventes. Esses ossos têm tamanho próximo ao de duas espécies vivas da região da gruta, mas como eles não estão em um bom estado de conservação não foi possível definir a espécie.
Tá, mas como esses ossos foram parar nessa gruta? Bom, a Gruta Abismo Ponta de Flecha serviu (e ainda serve) como uma armadilha natural, ou seja, a própria natureza “criou” essa cilada para esses animais. Por ser uma gruta vertical e possuir diversas galerias, alguns animais morreram por queda, outros por ficarem encurralados e morrerem de fome/sede. Além disso, alguns predadores e animais carniceiros também levavam restos de suas presas para a gruta, o que resultou no transporte desses ossos. Uma curiosidade, é que um úmero encontrado nessa gruta, aparentemente foi deixado por comunidades humanas, já que apresentava marcas e incisões associadas à atividade humana. Ou seja, é bem provável que comunidades humanas viveram e consumiram carne de Cingulados na região, onde atualmente se encontra o município Iporanga, durante o Holoceno.
Referências: CHAHUD, A.; COSTA, P. R. de O.; OKUMURA, M. Cingulata of the Abismo Ponta de Flecha Cave (Pleistocene-Holocene), Ribeira de Iguape Valley, southeastern Brazil. Revista Brasileira de Paleontologia, [S. l.], v. 25, n. 4, p. 322–330, 2022. DOI: 10.4072/rbp.2022.4.06. Disponível em: https://sbpbrasil.org/publications/index.php/rbp/article/view/325. Acesso em: 20 mar. 2023.