Sabe-se que a preservação de parasitas em materiais fósseis é rara, principalmente, durante a Era Mesozóica. Os registros paleontológicos de microrganismos já descritos resumem-se em ovos de helmintos e estágios desenvolvimentais de protozoários, encontrados em coprólitos (fezes conservadas) ou âmbar. Contudo, esses registros tal como sua relação à patologias são capazes de fornecer importantes informações fisiológicas e ecológicas de organismos e comunidades passadas, além de oferecer noções evolutivas da associação de parasitas e hospedeiros ao longo dos anos.
Pela primeira vez, cientistas brasileiros descobriram parasitas fossilizados em tecidos de um hospedeiro vertebrado. Os paleoparasitas foram identificados no osso de um Saurópode do Cretáceo Superior. Foi constatado que o dinossauro da família dos Titanossauros, encontrado no interior de São Paulo e depositado no Laboratório de Paleoecologia e Paleoicnologia (LPP) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), tinha osteomielite aguda, doença que consiste na inflamação óssea, comum em espécies atuais.
Para melhor estudar as lesões presentes no dinossauro, os cientistas, primeiramente, realizaram uma tomografia computadorizada reconstruindo um modelo tridimensional da amostra da fíbula do animal, que possibilitou a análise interna do osso afetado. Além disso, os pesquisadores resolveram descrever histologicamente o desenvolvimento da osteomielite. Para isso, fizeram cortes de lâminas do periósteo, os quais foram analisados microscopicamente a fim de se obter dados da morfologia e progressão da doença. Nestes, foram observados a presença de bolsas externas e zonas com padrões radiais e reticulares da reação periosteal, além de alta vascularização local. Foi a partir dessa análise que a equipe científica pôde identificar os tripanossomatídeos preservados nas regiões vasculares do membro examinado. Acredita-se que a mineralização autigênica tenha possibilitado a extraordinária conservação destes microfósseis.
Figura 1: Parasitas conservados nas regiões vasculares do periósteo indicados pelas setas vermelhas.
Não foi possível descobrir se os parasitas encontrados foram os responsáveis pela causa da doença ou se a própria infecção facilitou sua infestação, visto que foi localizada uma colonização bacteriana na amostra. No entanto, esse estudo contribuiu consideravelmente para a compreensão do histórico evolutivo e ecológico das doenças parasitárias. Ademais, foi um trabalho inovador, uma vez que uniu de forma inédita os campos da histologia, patologia e parasitologia, possibilitando o avanço da paleontologia.
Escrito por: Taciane Fernanda Valadares Reis em 23/11/2021.
Palavras-chave: inédito, parasitas, patologia, histologia, osteomielite, osso, dinossauro.
Fonte: Aureliano, T., Nascimento, C. S. I., Fernandes, M. A., Ricardi-Branco, F., & Ghilardi, A. M. (2020). Blood parasites and acute osteomyelitis in a NON-AVIAN dinosaur (sauropoda, titanosauria) from the upper cretaceous adamantina formation, bauru basin, southeast Brazil. Cretaceous Research, 104672. doi:10.1016/j.cretres.2020.104672