Pelo título, você já deve sentir um certo desconforto, não é, caro leitor? Pois é, até os insetos também sofrem com as temidas lombrigas. Os insetos e os nematódeos, nome dado ao grupo das lombrigas, têm uma relação muito antiga que perdura até os dias atuais.
Hoje, você vai descobrir um pouco sobre insetos que foram parasitados por esses vermes lá no período do Cretáceo médio e a relevância das descobertas destes seres presos no âmbar, uma resina vegetal que guarda curiosidades do longínquo passado do nosso planeta.
Em uma pesquisa realizada por cientistas do Instituto de Geologia e Paleontologia de Nanjing da Academia Chinesa de Ciências (NIGPAS), em colaboração com outros pesquisadores dos EUA e do Reino Unido, foi descrita a descoberta de cerca de 16 espécies de uma família de nematódeos chamada Mermithidae em âmbar de Kashin, um sítio fossilífero localizado no Vale Hukawng no norte de Myanmar, um país do sudeste asiático.
Primeiramente, como são os Mermithideos? Eles se diferenciam por ter um corpo relativamente grande, são normalmente enrolados, além disso, são feitas comparações com membros dessa família atualmente existentes. Um ponto bastante importante é que são parasitos obrigatórios de invertebrados, e o que isso quer dizer? Significa que, para completar seu ciclo de desenvolvimento, em alguma etapa precisam estar no hospedeiro. No caso dos Mermithidae, quando os insetos estão estressados, esses vermes podem sair antes mesmo de ficarem adultos. Os infectados por esse grupo morrem quando os parasitos emergem. Dois fatos importantes, pois, com isso, é possível verificar a presença desses organismos no registro fóssil que, ao emergirem do inseto, ficam presos no âmbar e é possível assim hipotetizar que esses parasitos podem ter desempenhado o papel de controle populacional nesses ambientes durante o Cretáceo.
Nessa pesquisa, foram feitas descobertas bem curiosas. Uma delas é o registro de insetos que foram parasitados por esses vermes, mas que não se tinha conhecimento dessa relação seja no passado ou presente, por exemplo, as traças-saltadoras (Archaeognatha) ou que atualmente não são mais parasitados, como exemplo, os piolhos (Psocodae).
O estudo revela pontos bastante interessantes sobre o parasitismo. Hoje, sabemos que esses nematódeos de insetos possuem uma certa preferência por insetos que têm desenvolvimento holometábolo, que é o que chamamos de desenvolvimento completo. Porém, nos estudos feitos com esses fósseis do Cretáceo, percebeu-se uma prevalência desses parasitos em insetos não holometábolos. O que se leva a crer, fazendo comparações com achados em âmbar Báltico (Eoceno ~45Ma) e âmbar Dominicano (Mioceno ~18Ma), que esses parasitos não exploraram de forma ampla os insetos holometábolos e que os não holometábolos estavam mais disponíveis na natureza e que essa relação parasita-hospedeiro em holometábolos se deu de forma mais efetiva no Cenozóico.
Pode-se dizer que o estudo dos fósseis de Mermithidae em âmbar nos fornece informações valiosas sobre a evolução, a ecologia e a diversidade desses parasitos e seus hospedeiros. Espero que você tenha gostado de aprender um pouco mais sobre esses vermes que atormentam os insetos há milhões de anos.
Imagem mostra os nematódeos Mermithidae emergindo dos seus diferentes hospedeiros. É possível perceber os abdomens ocos por conta do desenvolvimento dos nematódeos em seu interior.
Luo, C., Poinar, G. O., Xu, C., Zhuo, D., Jarzembowski, E. A., & Wang, B. (2023). Widespread mermithid nematode parasitism of Cretaceous insects. eLife, 12, e86283. https://doi.org/10.7554/eLife.86283.