Na Nova Zelândia, mais especificamente na Ilha Norte, há uma fascinante formação geológica que conta a história de muitas espécies extintas: a Formação Tangahoe. As rochas dessa área consistem em arenitos lamacentos, formados abaixo do nível do mar durante o Plioceno (3.4 a 3.0 milhões de anos atrás), os quais são indispensáveis na conservação de fósseis por proporcionarem um ambiente adequado. Entre espécies marinhas extintas que variam de tubarão, foca e cetáceos, essa massa rochosa conservou restos de um curioso gênero de pinguim: Eudyptula. Esse gênero, também conhecido como pequeno pinguim, atualmente subdivide-se entre duas espécies, uma presente na Nova Zelândia, a Eudyptula minor, e uma presente na Austrália, a Eudyptula novaehollandiae. Porém, um estudo foi feito com base em fósseis do pequeno pinguim e, relacionando esse material com espécies atuais de tal gênero, os pesquisadores descobriram que a distribuição geográfica desses animais nem sempre foi a mesma, e havia um equívoco sobre onde se pensava ser a origem deles.
Explorar a relação de fósseis com espécies ainda viventes permite aos profissionais da área, os paleontólogos, recontar a história do indivíduo, seja do ambiente em que vivia, da relação com outros seres ou do seu comportamento no ecossistema. E não é diferente com o tema em questão: por meio de medidas feitas no crânio do fóssil do animal, foi possível determinar vários aspectos, como distinção morfológica entre as duas espécies citadas e o grau de maturidade antes de morrer. Em realidade, dois fósseis coletados na Nova Zelândia e pertencentes ao Plioceno foram descritos, o que permitiu concluir que os pequenos pinguins viveram durante o Neógeno.
Outra característica intrigante é a conservação da espécie. 3 milhões de anos atrás significa dizer que a Terra passou por intensas mudanças climáticas, desde aquecimento global a eras glaciais durante vários períodos. O pequeno pinguim, tendo sobrevivido na região, manteve características semelhantes notáveis em espécies atuais, o que pode significar um possível ancestral delas. Essa ideia é apoiada pela evidência da distinção das espécies já citadas, e a idade calculada dos fósseis cranianos determina a origem neozelandesa do pinguim pequeno. Análises biogeográficas também apoiam o estudo, já que, apesar da origem ser na Nova Zelândia, observou-se uma dispersão para a Austrália durante o Pleistoceno, e uma expansão que levou a espécie de volta para sua origem, durante o Holoceno, período em que vivemos.
Referência: Thomas, Daniel B. et al. Pliocene fossils support a New Zealand origin for the smallest extant penguins. Journal of Paleontology v. 97, p. 711-721 (2023).
https://doi.org/10.1017/jpa.2023.30 acesso em 13/03/2024.
A Formação Tangahoe é uma formação geológica interessante no site da Nova Zelândia, mais especialmente na Ilha do Norte, que regista a história de vários animais extintos. Os arenitos lodosos, que se desenvolveram abaixo do nível do mar durante o Plioceno, constituem as rochas encontradas aqui.