Você já ouviu falar em Paleoparasitologia? Assim como o nome sugere, a Paleoparasitologia une a Paleontologia à Parasitologia, a fim de estudar espécies de parasitos em materiais arqueológicos e paleontológicos. Por exemplo, é possível utilizar as fezes fossilizadas de um animal, chamadas de coprólitos, para identificar ovos ou larvas de parasitos e deduzir hábitos alimentares daquela espécie, assim como obter informações ambientais da época em que ela vivia. Nesse contexto, um grupo de pesquisadores brasileiros da Universidade Estadual Paulista (UNESP) encontraram ovos de parasitos em coprólitos de crocodiliformes (parentes distantes dos crocodilos e dos jacarés atuais) que viveram no período Cretáceo Superior.

Fezes preservadas (coprólitos) de crocodiliformes contendo ovos de parasitos da família Ascaridoidea.
Sabe-se que os ovos de parasitos podem ser identificados através da morfologia que apresentam. No caso dos ovos encontrados nos coprólitos de crocodiliformes, foi possível visualizar o formato arredondado ou ovalado típico de vermes parasitos gastrointestinais de vertebrados, pertencentes à superfamília Ascaridoidea, popularmente conhecidos como “lombrigas”, como os causadores da ascaridíase em humanos. Esses ovos têm semelhança morfológica com ovos encontrados em crocodilianos modernos, o que sugere que esses animais adquiriram o parasitismo através de uma herança evolutiva. Ou seja, há indícios de que se trata de um grupo de parasitos bem sucedidos no processo evolutivo, os quais podem ser encontrados em exemplares de crocodilianos de milhões de anos atrás e de crocodilianos atuais.
Além disso, o estudo sugere que os crocodiliformes adquiriram esses parasitos por se alimentarem de peixes e de anfíbios. Portanto, a presença desses parasitos em coprólitos fornece informações valiosas sobre o hospedeiro e sobre os próprios parasitos, pois possibilita analisar a evolução desses parasitos e a sua distribuição geográfica pelo mundo ao longo do tempo. Assim, tanto a Paleontologia quanto a Parasitologia saem ganhando.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Cardia, D.F.; Bertini, R.J.; Camossi, L.G.; Letizio, L.A. (2018). The first record of ascaridoidea eggs discovered in crocodyliformes hosts from the upper cretaceous of Brazil. Revista Brasileira de Paleontologia, v. 21, n. 3, p. 238-244. Doi: 10.4072/rbp.2018.3.04. Disponível em: <https://www.sbpbrasil.org/assets/uploads/files/rbp2018304.pdf>. Acesso em: 10/04/2023.
Ghilardi, A.; Marinho, T. (2013). Um bicho tinhoso!! Conheça o mais novo predador do cretáceo do Brasil. Colecionadores de ossos - Blogs Unicamp. Disponível em: <https://www.blogs.unicamp.br/colecionadores/tag/crocodyliformes/>. Acesso em: 12/04/2023.