Os golfinhos e seus parentes, como as baleias dentadas e os botos, fazem parte do grupo Odontoceti, composto por mamíferos marinhos com dentes. É notável que os golfinhos se destaquem por possuir cérebros surpreendentemente grandes em relação ao corpo, até maiores do que os de alguns primatas!
Essa peculiaridade levanta a questão sobre a razão por trás disso. O cérebro é considerado um "motor" que demanda muita energia para funcionar adequadamente. Portanto, ao observar que os golfinhos possuem cérebros tão grandes, surge a hipótese de que deve haver uma vantagem adaptativa relacionada a isso. Hoje, acredita-se que essa característica está associada com viver em sociedades complexas, onde há intensa comunicação, cooperação e competição entre os membros do grupo.
Contudo, o cérebro raramente fossiliza, pois é considerado um tecido mole. Assim, é necessário que haja outros métodos indiretos para estudar sua evolução, principalmente em grupos não mais existentes. Uma opção é estudar os endocastos, que são moldes internos da cavidade cranial encontrados em fósseis, que podem auxiliar no entendimento das características cerebrais. O presente estudo se refere ao endocasto de uma espécie fóssil de um golfinho chamado Prosqualodon davidis, conhecido como o golfinho 'tubarão dentado' (shark toothed dolphin), encontrado na Nova Zelândia e datado do início do período Mioceno.
Um grupo de cientistas realizou uma análise comparativa do endocasto deste golfinho arcaico com outros fósseis conhecidos, a fim de entender melhor como o cérebro evoluiu nos Odontoceti. As descobertas sugerem que o aumento no tamanho do cérebro começou no início do Mioceno, nas linhagens que eventualmente deram origem aos golfinhos modernos. Simultaneamente, observou-se uma redução e perda do sentido do olfato, o que possivelmente ajudou a economizar energia, permitindo mais recursos para serem utilizados pelo cérebro. Essas evidências sugerem que espécies fósseis de golfinhos estavam começando a viver em sociedades mais complexas durante o Mioceno.
Ainda há muito a se desvendar sobre a história evolutiva dos mamíferos aquáticos, principalmente sobre os cérebros dos golfinhos. Estudos comparativos com mais exemplares e endocastos de outras espécies são necessários. Entretanto, o atual estudo mostra um avanço para o entendimento dessa história tão misteriosa.
Referência: Yoshihiro Tanaka, Megan Ortega & R. Ewan Fordyce (2023) A new early Miocene archaic dolphin (Odontoceti, Cetacea) from New Zealand, and brain evolution of the Odontoceti, New Zealand Journal of Geology and Geophysics, 66:1, 59-73, DOI: 10.1080/00288306.2021.2021956