Há cerca de 17 mil anos, no que ficou denominado como período Pleistoceno tardio, o Pampa brasileiro (região na qual hoje está o estado do Rio Grande do Sul) era o lar de alguns mega mamíferos. Entre esses seres, que pesavam mais de 1000 kg, estavam as preguiças-gigantes.
Os restos fósseis de duas espécies, as Megatherium e as Eremotherium, foram encontrados nos mesmos sítios arqueológicos: Arroio Pessegueiro e Arroio Chuí. Mas, será que estas duas preguiças-gigantes dividiam o mesmo espaço e os mesmos recursos? Essa é a pergunta que pesquisadores buscaram responder com o estudo “The Paleoecology Of Pleistocene Giant Megatheriid Sloths: Stable Isotopes (Δ13c, Δ18o) Of Co-Occurring Megatherium And Eremotherium From Southern Brazil”.
O Pampa ocupa parte da Argentina e do Rio Grande do Sul. Dominada por amplas colinas e com vegetação herbácea e arbustiva, com presença remanescente de mata xerofítica, o que indica que, durante o período glacial, a área passava por longos períodos de seca, a região possui árvores próximas às margens de rios e encostas.
A alimentação disponível para os herbívoros era constituída por plantas C3 (árvores, arbustos, ervas e gramíneas que crescem durante a estação fria) e C4 (gramíneas, dicotiledôneas e ciperáceas que crescem durante a estação quente). Para que ambas as espécies de preguiça-gigante pudessem coexistir, ao mesmo tempo e ocupando o mesmo espaço, a alimentação destes mega-mamíferos deveria ser baseada em diferentes tipos de organismos vegetais, que precisariam existir em abundância.
Para descobrir se as preguiças Megatherium e as preguiças Eremotherium coabitavam, os pesquisadores utilizaram técnicas de medição dos isótopos de oxigênio e isótopos de carbono retirados de dentes fossilizados encontrados nos sítios arqueológicos. Com essa medição, foi possível descobrir que as dietas e a composição da água ingerida por estes dois mega-mamíferos apresentavam diferenças notáveis.
Enquanto os Eremotherium se alimentavam principalmente de caules e poucos frutos, o Megatherium tinha nas gramíneas e pastagens sua base alimentar. Já quanto às fontes de água, os Megatherium consumiam parte da água necessária por meio de sua alimentação, que era enriquecida por meio das chuvas subtropicais, e se hidratavam em fontes de água enriquecidas por evaporação sob condições secas. Já os Eremotherium se hidratavam principalmente em rios próximos às matas ciliares, e poderiam ter vivido em tempos dominados por chuvas de origem tropical. Por isso, pode ser que as espécies não tenham convivido. Por outro lado, pode ser que as espécies tenham, sim, coexistido, mas em habitats e nichos distintos.
O estudo ainda precisa de continuidade. Isso porque, os pesquisadores estavam limitados a poucas amostras. Contudo, os resultados concordam com o que foi obtido em pesquisas realizadas anteriormente.
Fonte: Lopes, R.P.; Dillenburg, S.R.; Pereira, J.C.; Sial, A.N.. (2021) The Paleoecology Of Pleistocene Giant Megatheriid Sloths: Stable Isotopes (Δ13c, Δ18o) Of Co-Occurring Megatherium And Eremotherium From Southern Brazil. Revista Brasileira de Paleontologia. V. 24, nº 3. p. 245-264. doi:10.4072/rbp.2021.3.06. Disponível em: https://sbpbrasil.org/publications/index.php/rbp/article/view/214. Acesso em 23 ser 2022.