Este artigo descreve a descoberta do primeiro registro de macrofósseis de plantas na Formação Boa Vista, localizada na Bacia do Tacutu (ou Takutu), no Estado de Roraima, no norte do Brasil.
A Formação Boa Vista é composta por rochas sedimentares, conhecida por preservar importantes registros paleontológicos, incluindo fósseis de mamíferos, répteis e plantas. Foram coletados intraclastos argilosos com folhas preservadas na forma de impressões e compressões no canal do Rio Tacutu durante o momento de seca (dezembro a fevereiro). A descoberta de macrofósseis de plantas nessa formação é significativa, pois indica a presença de vida vegetal em uma época na qual a Terra ainda não tinha uma cobertura vegetal generalizada.

Mapa da região onde foram coletadas as amostras, na Bacia Tacutu.
Os macrofósseis foram encontrados em camadas de rochas sedimentares da formação e consistem principalmente em fragmentos de caules e folhas fossilizadas, em alguns casos mumificados. A análise dos fósseis sugere que as plantas eram do período Pleistoceno Superior - Holoceno (Cenozóico).
No laboratório, para confirmar a hipótese de que os macrofósseis realmente pertenciam à Formação Boa Vista, os pesquisadores usaram técnicas de Difração de Raio-X (DRX) e o Laser-Induced Breakdown Spertroscopy (LIBS) para examinar os fragmentos de plantas fossilizados e determinar sua identidade taxonômica, comparando com dados de afloramentos da Bacia. Taxonomicamente, os espécimes foram identificados como representantes de Dilleniaceae Salisb., Byrsonima Rich. ex Kunth (Malpighiaceae), Zanthoxylum L. (Rutaceae) e outros 6 morfotipos.
Os caracteres anatômicos cuticulares das folhas mumificadas indicaram a predominância de cutículas hipoestomáticas (poros para trocas gasosas) e alto número de tricomas (formas de proteção da planta e de auxiliar absorção de água) na epiderme, que também são condições observadas em plantas xerófitas (plantas adaptadas para sobreviver em meio semiárido e desértico) e nas atuais espécies arbóreas predominantes no lavrado em Roraima, em sua área de vegetação aberta no nordeste do Estado. Isso ajuda a confirmar que o registro fóssil dessa formação vegetal viveu sob as mesmas condições climáticas e ambientais durante o período Pleistoceno Superior - Holoceno.

Análise das estruturas anatômicas das plantas, principalmente o detalhe da venação foliar.
Os resultados do estudo fornecem novas informações sobre a evolução da vida vegetal na Terra e podem ajudar os cientistas a entender melhor como as plantas se adaptaram e evoluíram ao longo do tempo. Além disso, a descoberta pode ter implicações para a compreensão da história geológica da Bacia de Tacutu e dessa região do Estado de Roraima como um todo.
Referência do artigo:
Oliva, D. A., Marques-de-Souza, J., Iannuzzi, R., & Wankler, F. L. (2022). First record of plant macrofossil from the Boa Vista Formation, Takutu Basin, Roraima State, Brazil. Revista Brasileira De Paleontologia, 25(4), 303–321. https://doi.org/10.4072/rbp.2022.4.05
Disponível em <https://sbpbrasil.org/publications/index.php/rbp/article/view/312/136 > Acesso em 01/04/2023