Isabella Azevedo
quarta-feira, 20 de janeiro 2021
Recentemente, pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo analisaram fósseis de mamíferos coletados em 1982, em uma frente de extração de mármore, no Espírito Santo (ES). No Estado, esta foi uma das únicas coletas de fósseis de vertebrados, até então.
“Fósseis são restos ou vestígios de animais, vegetais e de outros microrganismos que viveram em tempos pré-históricos e estão naturalmente preservados nas rochas sedimentares.” SOARES, M.B.(Org.), 2015.
No Espírito Santo, predominam as rochas ígneas e metamórficas. Dessa forma, encontrar fósseis na região é bastante raro. Assim, os cientistas buscaram compreender o curioso processo que teria sucedido a morte daqueles animais e possibilitado sua preservação naquela área pouco propícia. Interessantemente, os fósseis encontrados no ES estavam soterrados por sedimentos, em uma fenda formada entre rochas metamórficas – sim, mármore é rocha metamórfica.
O material estudado pelos cientistas data do período Quaternário, que teve início a 2,6 milhões de anos atrás e engloba a era do Gelo e o aparecimento e expansão do ser humano. Dentre os achados, estão fragmentos de crânio, dentes, vértebras, costelas e ossos longos, como a tíbia e o fêmur.
Inicialmente, os pesquisadores tiraram as medidas das peças encontradas e fizeram a caracterização e classificação de cada fragmento. Em sequência, estimaram o número de indivíduos por espécie, assim como o número mínimo de indivíduos envolvidos, por meio de programas estatísticos.
Nesse estudo, os pesquisadores também buscaram pistas que indicassem que o(s) animal(is) teria(m) morrido após cair na fenda, ou que teria(m) morrido próximo à fenda, sendo transportado(s) para ela após a morte. Em busca dessas informações, observou-se o nível de integridade física das peças fósseis, assim como estágios de desgaste e outras marcas.
Por fim, concluiu-se que a maioria dos fragmentos fósseis pertenciam a apenas um indivíduo de Eremotherium laurillardi – uma espécie de preguiça gigante – e outros mamíferos. A hipótese levantada é a de que, devido ao tamanho da fenda e às marcas de dessecação, os ossos desses animais teriam sido transportados de uma curta distância para a fenda, por corpos de água com velocidade reduzida.
Ademais, julga-se que o material não foi totalmente soterrado por sedimento argiloso após cair na fenda, permitindo que os ossos sofressem influências de minerais, as quais são comprovadas pela coloração acinzentada (Figura 3). Isso também permitiu que eles ficassem parcialmente protegidos do desgaste provocado pela água e pelo vento.
Ainda foram observados arranhões no fragmento da tíbia. Devido à sua distribuição e formato, pensa-se que foram causados por carnívoros, mais especificamente canídeos (Figura 4), que teriam se alimentado da carcaça do animal após sua morte, como indica o tamanho e a localização dos arranhões. Inclusive, esses arranhões são considerados (icno)fósseis de animais carnívoros, pois são vestígios de sua atividade!
Referências Bibliográficas
Confira aqui o artigo original.
GERMANO, R.V.; BUCHMANN, R., RODRIGUES, T. 2019. Fósseis em uma frente de extração de mármore? Análises tafonômica e paleoicnológica de mamíferos de grande porte do Quaternário do Espírito Santo, Brasil. Revista Brasileira de Paleontologia, 22(3):240-252. DOI: :10.4072/rbp.2019.3.06
REZENDE, R.C. Período Quaternário. Disponível em: <https://www.infoescola.com/geologia/periodo-quaternario/>. Acesso em: 18 jan. 2021.
SOARES, M.B.(Org.). 2015. A paleontologia na sala de aula. Ribeirão Preto: Sociedade Brasileira de Paleontologia. p. 20.
Figuras
Figura 1. Esqueleto de preguiça gigante.
Fonte: "Eremotherium laurillardi" by S. Rae is licensed with CC BY 2.0. To view a copy of this license, visit https://creativecommons.org/licenses/by/2.0/
Figura 2. Representação da fenda onde os fósseis foram encontrados.
Fonte: GERMANO, R. V., BUCHMANN, R., & RODRIGUES, T., 2019.
Figura 3. Fragmento da tíbia de preguiça gigante, com áreas acinzentadas.
Fonte: GERMANO, R. V., BUCHMANN, R., & RODRIGUES, T., 2019.
Figura 4. Carcaça servindo de alimento para possíveis canídeos, antes de sofrer transporte para a fenda.
Fonte: GERMANO, R. V., BUCHMANN, R., & RODRIGUES, T., 2019.
Palavras-chave
Paleontologia. Fóssil. Tafonomia. Eremotherium.
Que maaassa, Isabella! Adorei! Alguns trechos me lembraram a atividade de tafonomia que fizemos na disciplina, né? hehehe