O grupo das serpentes é um dos maiores e mais diversos dentre os répteis; além disso, há as serpentes que promovem maior grau de periculosidade, mas também devemos levar em consideração seus respectivos nichos ecológicos, que é um conjunto de condições e recursos que permitem uma espécie sobreviver em determinado habitat. Vamos conferir todos esses processos referentes aos riscos que esses organismos podem oferecer, assim como sua importância no meio ambiente?
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As cobras são organismos exuberantes, principalmente em relação à sua coloração e seus modos de vida. Geralmente, as cobras habitam regiões de clima quente, tendo em vista que são animais ectotérmicos, ou seja, não tem a capacidade de regular a temperatura corporal por meio de mecanismos internos, assim, necessitam de fontes externas de calor.
Em seus habitats, há inúmeras presas assim como muitos predadores; logo, as cobras precisam se defender para sobreviver. De acordo com o último levantamento do Reptile Database, existem 3.879 espécies de serpentes no mundo todo, das quais apenas 200 são consideradas de importância médica devido às suas peçonhas, compostas por misturas complexas de toxinas e enzimas - substâncias orgânicas de natureza protéica com a finalidade de acelerar reações químicas).
Estas peçonhas apresentam diferentes atividades/efeitos, sendo os mais conhecidos os seguintes efeitos:
Neurotóxicos, agindo principalmente no sistema nervoso, afetando os nervos ópticos (causando cegueira), ou o nervo frênico do diafragma (causando paralisia respiratória);
Hemorrágicos, destruindo as células vermelhas do sangue, provocando hemorragias extensas nos tecidos.
Algumas cobras apresentam um comportamento defensivo muito especializado tendo a capacidade de cuspir o veneno em até 3 metros de distância, assim como a aptidão de se arremessar (bote) contra o predador a fim de intimidá-lo.
Outras, por sua vez, mordem o animal, inoculando o veneno, ou mesmo matam a presa (ou o agente estressor) através da constrição, enrolando seu corpo e apertando até quebrar/esmagar as estruturas interromper o fluxo sanguíneo, levando à falta de oxigênio e a morte (como as jiboias, por exemplo).
Mas, apesar de tudo isso, as cobras possuem importantes papéis na natureza e devem ser preservadas. Elas atuam no controle populacional de pragas, sobretudo roedores que podem causar doenças em humanos. Lembrando, também, que matar cobra é crime ambiental, já que elas são animais silvestres; caso encontre esse animal, entre em contato com a Polícia Ambiental ou o Corpo de Bombeiros da sua região!
Já que agora você recebeu uma explanação geral sobre os modos de vida das serpentes, vamos conferir a lista de cobras mais venenosas e letais do mundo:
Lista de cobras mais perigosas do mundo
Taipan (Gênero Oxyuranus) e Cobra-Marrom (Gênero Pseudonaja)
Essas duas cobras possuem muitas características em comum; não em relação à morfologia, mas à letalidade: são cobras peçonhentas, consideradas perigosas e algumas das mais temidas pela própria comunidade científica. Enquanto as Taipans (Oxyuranus sp.) são endêmicas da Papua-Nova Guiné e Austrália, as Cobras-Marrons (Pseudonaja sp.) tem como centro de endemismo apenas a Austrália.
As complicações agudas pelo envenenamento por essas cobras incluem:
Neurotoxicidade: as toxinas alteram a atividade normal do sistema nervoso de tal forma que causa danos ao tecido nervoso;
Trombocitopenia e coagulopatia: queda e destruição acentuada na contagem de plaquetas no sangue, ocasionando distúrbios da coagulação sanguínea, podendo provocar tanto hemorragia interna quanto cerebral;
Lesão renal aguda: altera as condições de modo que os rins deixam repentinamente de filtrar os resíduos do sangue.
Miotoxicidade: ocasiona severa necrose nos músculos.
Cascavel (Gênero Crotalus)
A Cascavel é uma cobra frequentemente encontrada nas Américas, distribuída de forma descontínua.Seu habitat preferencial são regiões áridas, como cerrado, lavrados e savanas. A característica mais marcante nessa cobra é a presença de um chocalho presente na extremidade da cauda, que emite um som sempre que o animal se sente ameaçado.
Assim como a Taipan e a Cobra-Marrom, sua toxina possui ações neurotóxicas, miotóxicas e distúrbios coagulantes. Por conta disso, a cascavel é uma das cobras mais temerosas na América do Sul (onde há maior ocorrência), sobretudo no Brasil, por ser composto por um mix de regiões quentes. Dentre os sintomas, após a picada, podemos destacar:
Dor e edema (inchaço);
Parestesia (sensação de formigamento);
Eritema, rubor/vermelhidão da pele, ocasionado pela vasodilatação capilar;
Fácies neurotóxica (flacidez da musculatura da face);
Prostração (debilidade física) e sonolência;
Insuficiência renal aguda.
Krait Malasiana (Gênero Bungarus)
O oeste da Ásia e a Indonésia é marcado pela forte presença desse gênero, mas também pode ser encontrada em países tropicais e subtropicais. Considerada uma das cobras mais perigosas do mundo, esta possui hábitos noturnos, o que pode intensificar ainda mais a apreensão por esse organismo. É muito chamativa devido a cor preta intercalada com branca ao longo do seu corpo.
Apesar disso, é uma importante espécie cultivada na China (local que também sofre com altos índices de acidentes ocasionados por essa cobra) devido ao alto valor medicinal e econômico e, portanto, atrai considerável atenção da pesquisa.
Cobras do Gênero Bungarus podem conter até quatro componentes neurotóxicos letais diferentes; então, imagina os danos que essa cobra pode causar?!
A Krait Malasiana, assim como algumas outras serpentes, pode se alimentar de outras cobras, inclusive da mesma espécie. Ela também se alimenta de pequenos mamíferos (como ratos e camundongos), lagartos e sapos.
Naja (Gênero Naja)
A Naja é uma das cobras mais conhecidas no mundo, devido à sua forma de ataque quando se sente ameaçada. Na presença de um possível rival/predador, levantam a parte anterior do corpo exibindo uma espécie de capuz (o chamado capelo) e, se provocados, “chiam” alto e balançam o capuz para assustar o adversário.
Essas cobras investem na presa de forma intensiva, mastigando a parte mordida para inocular maior quantidade de veneno. Geralmente se alimentam de roedores, pássaros, sapos, lagartos e outras cobras, e são encontradas em locais rochosos e florestas. Possuem cores e padrões variados, pois há várias espécies dentro desse gênero, e são muito frequentes em regiões da África, Sudoeste da Ásia, Sul da Ásia e Sudeste Asiático.
Os sintomas da picada são semelhantes aos de outras cobras já mencionadas, mas os mais comuns são: dor, edema, necrose, paralisia respiratória, cefaleia (fortes dores de cabeça), parada cardíaca, hipotensão e sangramento em feridas. Tudo isso devido à presença de neurotoxinas potentes, presentes em seu veneno.
Mamba-Negra (Gênero Dendroaspis)
Essa cobra, com alto risco de periculosidade, é endêmica da África Subsaariana. Assim como o veneno de outras cobras, é altamente potente e compreende uma grande diversidade de peptídeos e proteínas (biomoléculas formadas a partir da ligação de aminoácidos) farmacologicamente ativos, incluindo neurotoxinas debilitantes de ação extremamente rápida.
Dentre os sintomas mais apresentados após a picada podem-se destacar:
Fasciculações (espasmos musculares);
Colapso cardiovascular (disfunções cardíacas, podendo ocasionar parada cardíaca ou infarto);
Ptose (queda da pálpebra superior em direção à pupila);
Paralisia respiratória e morte (em casos mais graves, isso pode ocorrer em apenas 45 minutos).
Sua distribuição ao longo da savana e seus hábitos terrestres a colocam em contato com as comunidades agrícolas de subsistência da África, ameaçando a vida da comunidade local e seus meios de sustento. Devido ao seu tamanho e velocidade, é considerada caçadora terrestre de grande alcance e veloz.
A importância médica das mambas é destacada pela ampla inclusão do veneno na fabricação de vários antivenenos comercializados para uso na África Subsaariana.
Serpente-Tigre (Gênero Notechis)
A cobra-tigre mede cerca de 1 metro de comprimento; é nativa da Austrália, pode ocupar áreas úmidas e florestas de clima frio com alta pluviosidade, sendo que algumas populações podem habitar regiões urbanas.
O envenenamento por esta cobra pode resultar em múltiplas toxicidades fatais em pouquíssimos minutos, incluindo coagulopatia, neurotoxicidade e miotoxicidade, ambos já mencionados neste texto.
A nefrotoxicidade (efeito venenoso sobre os rins) pode ocorrer como uma complicação secundária. Além disso, sua toxina pode provocar dor nos membros inferiores e na região do pescoço.
Cobra/Víbora-da-Morte (Gênero Acanthophis)
Sem dúvida alguma, o próprio nome dessa cobra já causa pânico; e, assim como todas as outras cobras aqui mencionadas, ela também possui uma peçonha extremamente letal. É uma cobra encontrada em grande parte do leste e sul da Austrália continental.
Os indivíduos desse gênero se alimentam principalmente de répteis e anfíbios quando jovens, mas mudam para uma dieta predominantemente à base de mamíferos quando adultos.
A neurotoxicidade (danos no sistema nervoso) é um resultado comum após picadas desse animal, mas também podem surgir outros sintomas graves como miotoxicidade, insuficiência cardíaca e respiratória, parestesia e eritema.
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Escrito por: Manoel Celestino de Pontes Filho (@manoelpontes_)
Revisado por: Juliana Cuoco Badari (@jujubadari)
Como citar este texto:
PONTES FILHO, M. C.; BADARI, J. C. Quais são as cobras mais perigosas do mundo?. Potencial Biótico. Disponível em: <https://www.potencialbiotico.com/post/cobrasmaisperigosasdomundo>. Acesso em: xx/xx/xxxx.
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Manoel Pontes
Redator
Graduado em Ciências Biológicas (licenciatura) pela UFPB. Mestrando em Ecologia e Monitoramento Ambiental (PPGEMA/UFPB). Atua em atividades de ensino e extensão.
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